Chamada à Acção dos BAD’s influentes

By | 31 de Março de 2007

(deixemos a metáfora da gravidade)

Quanto mais penso nos resultados práticos do Painel de Blogues no 9º Congresso da BAD mais dúvidas do alcance do seu impacto sinto. A saber:

Fomos úteis? O que é que a/o colega IS leva de volta à sua nobre cidade de E. que a ajude a dotar a sua biblioteca de um blogue oficial ao invés de andar, qual quinta coluna cultural, a falar  sobre actividades conexas tentando lembrar a todas as quinze palavras, aos seus cidadãos que o podem fazer na biblioteca?

Que ela foi embora sabendo que é útil usar esta ferramenta para fazer divulgação de leitura… já ela tinha vindo para cá com isso.

É necessário um corpo teórico-doutrinal em Português que os responsáveis camarários por recursos informáticos (e porque não até os presidentes de câmara ) entendam, e que seja assinado por um conjunto de entidades de peso (peso científico, informático e político), que confirme e/ou afirme a importância, relevância e insuperável relação custo-benefício, dos blogues na prossecução das políticas culturais que lhes cabem (mesmo que não estivessem nos respectivos programas eleitorais ou nos cursos de gestão de sistemas informáticos).

Para já não falar de poderem usar o balão de ensaio do blogue da biblioteca para avançar depois nesse delicioso exercício de democracia directa que deve ser ter um blogue de diálogo directo entre os autarcas e os munícipes, com o conteúdo da conversa aberto ao público, mas sonho com tempos idos.

Um blogue de biblioteca  não é uma tentativa de ultrapassar as competências do gabinete/responsável de imagem da autarquia ou do autarca.

É deveras interessante que a própria realização do painel demonstre pelo menos o beneplácito da comissão científica e da comissão organizadora do congresso e possa, a altas horas da noite e com o discernimento toldado pela falta de sono e pela simpatia do meio humano envolvente para não falar de inebriante efeito das destilações da flora autóctone, ser afirmado que a BAD apoia os blogues de bibliotecas e os acha uma boa prática auto evidente.

Mas os companheiros profissionais de I&D não podem ir pedir autorização para blogar em nome das suas unidades documentais, para expansão da superfície de contacto com as suas comunidades de utilizadores, armados apenas com o programa do 9º Congresso BAD, e/ou, num futuro próximo, com a transcrição das conclusões do painel quando aprovados em instância própria da APBAD.

ACTION THIS DAY

Temos de fazer mais alguma coisa.

I:  Que todas as Bibliotecas Municipais com blogues mantenhan o rasto à relação custo benefício da sua experiência, medição do impacto na comunidade, satisfação de utilizadores e munícipes, de modo a ser construído um corpus de evidência que possa ser deixado cair em cima da secretária do/a chefe de serviço, do/a director(a),  do/a presidente de câmara, do/a ministro/a , eu sei lá, com um sonoro thud!

[Espero que as camaradas professoras-bibliotecárias escolares o estejam já a fazer de maneira sistematizada… estão não estão?]

II: Mas até lá são os ‘influentes’ da biblioteconomia que podiam ir adiantando trabalho e tomando posições públicas, senão publicando blogues pelo menos comentários em blogues existentes, que encorajassem uns e semeassem a abertura de espírito de outros, de modo a que, quando estes projectos são apresentados não sejam recusados liminarmente.

E que o comecem a fazer já e em força: a última vez que a ciência se compadeceu com o ciclo editorial de 6 ou 9 meses de peer reviewing de uma revista foi quando o Wiles detectou os erros na demonstração da Conjectura Takayama Shimbura usada para provar o Último Teorema de Fermat.

14 thoughts on “Chamada à Acção dos BAD’s influentes

  1. Pedro Príncipe

    Os resultados não significarão uma mudança grande no panorama dos blogs no domínio das CI, mas não duvido que alguns saíram de lá com ideias diferentes sobre os blogs e outros com vontade de concretizar um projecto de blog. Uma coisa ficou bém vísivil… sentiu-se entre as pessoas que participaram no painel uma outra forma de estar e de partilhar – pessoas que claramente olham o nosso meio profissional de um modo aberto e plural, ousando participar na sua construção.

  2. Bruno Duarte Eiras

    Pessoalmente sou da opinião de que após se saberem e conhecerem as pessoas/atitudes por detrás dos blogs representados no painel a situação será com toda a certeza diferente. A minha experiência de blogger (anterior ao Entre Estantes) diz-me que após um contacto social as pessoas tendem a ser mais participativas… pelo menos assim se espera e as intervenções feitas no auditório levam a isso.
    Uma nota sobre os já célebres “pesos-pesados” e agora BAD’s influentes… percebeu-se pela realização do painel no Congresso que “temos espaço” agora basta replicar o efeito!

  3. Paulo Jorge

    [Espero que as camaradas professoras-bibliotecárias escolares o estejam já a fazer de maneira sistematizada… estão não estão?]

    Nas escolas estamos apenas no começo das práticas. As teorias terão de ser elaboradas a níveis mais altos… e não só com os blogues.

    Quanto a nós, a dificuldade está nos recursos (não adianta dar canas de pesca se não se sabe colocar um anzol ou se o rio não tem peixe!)

    Uma nota: certamente que não são só AS PROFESSORAS-BIBLIOTECÁRIAS mas também OS prof-bib (ou será que nas bibliotecas não-escolares apenas existem senhoras de cabelo apanhado e óculos com correntes?!).

    Quanto ao termo ainda somos só coordenadores de Bibliotecas escolares. Novas responsabilidades com a nova função parecem chegar para o ano lectivo que se avizinha.

  4. Julio Anjos

    Sobre: “certamente que não são só AS PROFESSORAS-BIBLIOTECÁRIAS mas também OS prof-bib”

    Esta nossa lingua tão dependente do género… doravante passo a usar Docentes-Bibliotecários

  5. quicktime

    Maravilhoso. Há uns tempos tinha que tinha deixado de procurar listas de discussão na área (a Liberpolis tinha uma mas muito pouco participada, a BAD chegou a ter ou tem? alguém sabe mais alguma coisa?) e eis que zás: o maravilhoso mundo dos blogs. Tive conhecimento deste através de uma pessoa que foi ao 9 Congresso BAD e que trouxe um maravilhoso chá gorreana. À vossa saúde e à crescente democratização da discussão de ideias e opiniões na área das Bibliotecas e em todas 🙂 ahh chá maravilhoso

  6. Filipe Leal

    Olá Júlio,

    O primeiro congresso em que participei foi o de Braga (1992). Passados quinze anos e vários congressos da BAD, é-me possível identificar um conjunto de tendências, que se tem vindo a acentuar:

    1. A emergência de uma pseudo–cientificidade. Os congressos são aproveitados para cumprir o ritual de apresentação dos resultados das dissertações de mestrado e das teses de doutoramento que, na maior parte dos casos (e com honrosas excepções), não trazem nada de novo nem de interessante. Faço notar que os discursos estão cada vez mais distanciados das práticas. Obviamente que é mais fácil dizer do que fazer e, neste ponto concreto, a pseudo-cientificidade serve mais para afirmar pessoas do que instituições.

    2. A ausência de um debate participado e incisivo. A ausência do debate decorre, na minha leitura, de três factores fundamentais: a) o número excessivo de comunicações, que acabam por sobrecarregar o congresso com intervenções de qualidade e pertinência duvidosa; b) a falta de respeito de muitos colegas pelo tempo que lhes é concedido, tempo esse que devia ser utilizado para o debate; c) a falta de hábito de discutirmos publicamente os nossos pontos de vista, o que nos leva a não conseguir ter posições comuns enquanto classe profissional.

    3. A falta de tomada de posições públicas por parte da classe. Os congressos da BAD só interessam aos profissionais da BAD. A ausência de uma cobertura por parte da comunicação social faz com que seja um congresso autista e autofágico. Os congressos são reuniões magnas e momentos únicos de tomada de posição por parte dos profissionais, mas, por exemplo, o que é que o cidadão comum ficou a saber sobre o impacto que o empréstimo pago vai ter na sua vida. Nenhuma.

    4. O esmorecer do entusiasmo dos profissionais. Perdeu-se, no caso das bibliotecas públicas, a chama dos primeiros tempos da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. Perdeu-se o capital de esperança que investimos na possibilidade de efectivamente nos constituirmos como uma rede cooperativa, em que o todo fosse maior do que a soma das partes. O que resta é um conjunto vasto e mais ou menos heterogéneo de bibliotecas públicas que nunca conseguiram afirmar-se junto das comunidades que servem e dos políticos que decidem o seu futuro. Restam também alguns casos de bibliotecas públicas de sucesso (justificável muitas das vezes por uma combinação única e instável de vontade política e de dinamismo profissional) que poderiam servir de motor para criar a rede cooperativa. Mas falta a visão estratégica dos profissionais e a vontade política dos decisores de topo.

    Penso que é fundamental repensarmos os congressos da BAD. Deixo aqui quatro sugestões para o próximo Congresso da BAD:

    1. Um congresso com menos comunicações (= maior selectividade e menos pseudo-cientificidade);

    2. Um congresso com mais painéis (= para agregar num mesmo espaço profissionais com os mesmos interesses e com vontade de tomar posições e desenvolver acções comuns);

    3. Um congresso com mais tempo para debate (= maior equilíbrio entre o tempo para as apresentações e o tempo para os debates);

    4. Um congresso com maior intervenção pública (= fazendo chegar à opinião pública, através da comunicação social, a dimensão política do nosso trabalho).

    Já agora, em jeito de nota final, gostava de referir que no repto que lancei aos meus colegas das Bibliotecas Municipais de Oeiras para participarem no Congresso da BAD foram três coisas: 1. Expressarem as suas opiniões pessoais de forma clara e fundamentada (mesmo que contrariassem as minhas opiniões sobre os mesmos assuntos); 2. Adoptassem um registo de reflexão crítica sobre o seu trabalho (e não somente a descrição do que fazemos); 3. Respeitassem escrupulosamente os 20 minutos que nos eram dados (por razões de eficácia de comunicação e por uma questão de respeito pelas regras).

    Saudações cordiais
    Filipe Leal
    Rede de Bibliotecas Municipais de Oeiras

  7. Cláudia Castelo

    Sou uma associada da BAD que aceitou participar na Comissão Científica do 9.º Congresso. A Associação tem muito a aprender com as críticas e sugestões dos profissionais que produzem blogues. Fazer um blogue na nossa área profissional é um serviço público e um testemunho quotidiano de intervenção e reflexão. O dinamismo dos autores de blogues convocados pela Luísa Alvim mostra que há gente que pensa e quer fazer coisas na profissão e as concretiza, por sua livre iniciativa, sem os constrangimentos dos processos e das decisões associativas (colectivas). Acho que todos devemos congregar os nossos esforços, mas reconheço que é bem mais difícil.
    Por agora, posso garantir que irei propor à BAD um levantamento exaustivo dos blogues sobre bibliotecas, arquivos, centros de documentação/informação e a disponibilização dos respectivos links na página da Associação.

  8. Maria José Amândio

    Ainda algumas considerações sobre o impacto do Painel de Blogs:
    Revelou-se um “frente a frente” muito benéfico e a prova disso é visível aqui pela adesão aos “comentários”. Contudo, creio que a ausência de expressão/feedback na blogosfera não deve ser representativa do desinteresse na participação em reflexões mobilizadoras. Sabemos que inúmeros factores podem estar na base destes silêncios, desde questões de disponibilidade a outro tipo de inibições e constrangimentos (situação que tendencialmente poderá vir a ser atenuada).

    Quanto à aplicação de Blogs nas instituições, deve prevalecer uma atitude pró-activa no teste de modelos que procurem tanto a divulgação de informação útil sobre projectos e serviços como a interacção com a comunidade. Existem boas práticas por este país fora, no entanto, reporto-me à experiência do Blog Oeiras a Ler e a indicadores estatísticos que atribuem sustentabilidade ao projecto: de 1.Fev (data da última reestruturação) a 5.Abr contamos com um total de 5.185 visitantes (cerca de 71% registou uma primeira visita e 29% tornou-se utilizador assíduo). Na base dos resultados positivos está sem dúvida a dinâmica criada “dentro de portas” bem como a prestação contínua de serviços que implicam a comunicação e o acesso através desta plataforma de actualização quase diária.

    Para terminar, aproveito para referir que “O Bibliotecário 2.0” é um caso exemplar de como um blog pode ser aplicado no desenvolvimento de competências entre os profissionais de informação. Continuação de óptimo trabalho.

    Até breve.

  9. Julio Anjos

    Por agora, posso garantir que irei propor à BAD um levantamento exaustivo dos blogues sobre bibliotecas, arquivos, centros de documentação/informação e a disponibilização dos respectivos links na página da Associação.

    Cara Cláudia Castelo… pergunto-me porquê só agora … E o trabalho que refere foi já realizado, ao que sei magistralmente, pelo Pedro (rato de biblioteca) Príncipe

  10. Cláudia Castelo

    É bom esclarecer que não tenho qualquer mandato especial nem obrigações a mais que qualquer outro associado. Não me passou pela cabeça inventar nada, apenas aproveitar o trabalho bem feito por profissionais competentes e dedicados e propor à BAD a sua divulgação no site. Mais vale agora que nunca. Como aconteceu com o painel sobre os blogues que, como membro da Comissão Científica do 9.º Congresso, sugeri que se realizasse.
    Aproveito para lembrar que os colegas espanhóis também irão ter o seu debate sobre os blogues na bilioteca 2.0 nas 10 Jornadas Espanholas de Documentação (Fesabid 2007, a 10 de Maio próximo em Santiago de Compostela).

  11. mariajosevitorino

    Humildemente, contribuo:
    professoas bibliotecárias : realmente, melhor docentes bibliotecários(as) , pois em 1800 bibliotecas RBE, fora as outras, também existem colegas que são educadores(as) de infância de formação de origem; pessoalmente, creio que um dia virá em que preconceitos vencidos acharemos igualmente natural o(a) bibliotecário(a) documentalista-docente, pois segunda formação tanto se pode fazer num sentido como noutro. Haja bibliotecas escolares e força para movimentos de opinião e pressão no sentido do reconhecimento destas funções, como funções profissionais…! Pelas escolas, aqueles(as) que por lá andamos, vimos fazendo bastante por isso. Trabalho em rede e parcerias, que las hay, las hay, como se vai vendo…
    Quanto ao levantamento de blogues, embora reconheça o contributo precioso do Pedro Príncipe, e de outra gente, creio que ele concordará que é tarefa gigantesca identificar TODOS os blogues, incluindo os de profissionais (como este) e os de instituições (c0mo Oeiras a Ler, ou tantos mais ou menos efémeros, de bibliotecas de todo o tipo, incluindo alguns… comerciais, directos ou indirectos). Já me parece interessante a elaboração, com quem queira participar, de equações de pesquisa mais ou menos apuradas para automatizar esse levantamento, através dos recursos disponíveis na web.Esta proposta é meramente no terreno dos conteúdos, estou longe de ser especialista no mundo dos Metadada!
    Cláudia: ainda bem que tiveste esta ideia, como outros se vão lembrando de outras. As ideias são de quem as cria, no sentido também de quem as acarinha. Nesse sentido, assumo gostosamente o papel, não de mãe (tenho uma mem+oria de passarinho para as ideias que me ocorrem, e sobretudo para quando ocorreram, e se antes ninguém as disse, sou leitora há demasiados anos), mas de madrinha.
    Tanto para fazer e inventar! Ainda bem que somos muitos(as)! Ainda bem que hoje, ainda somos mais/somos+ que antes!

  12. Julio Anjos

    1º: Os meus sinceros parabéns à Cláudia pela boa ideia, em boa hora colocada em prática, de meter o tema Blogues no Congresso da BAD e da maneira como foi feito, i.é, num modelo de painel.

    2º: Os meus sinceros parabéns à Cláudia pela boa ideia de realizar “um levantamento exaustivo dos blogues sobre bibliotecas, arquivos, centros de documentação/informação”.

    Pergunto-me se se referia apenas aos portugueses ou aos de todo o mundo… porque em Inglês (UK, USA, Austrália, India, etc) há já quase uma mão cheia de milhares registados e indexados e catalogados em serviços como LibWorm e LisZen.

    Em Portugal, depois de vários dias à pesca e à caça, descobri uma boa colecção, que decerto não será exaustiva, e agradeço as boa vontade de quem me ajude a preencher as lacunas.

    Todos os que descobri estão já agregados em http://www.bibliorandum.net/blogs.php.
    Os que não descobri podem ser propostos na caixinha que aparece do lado direito:

    da referida página.

    Bem hajam…

  13. Ana Melo

    Relativamente ao impacto do painel sobre Blogs no Congresso da Bad,para já deve ser muito difícil avaliar. Mas pelo entusiasmo que os conferencistas puseram nas suas comunicações e pelo interesse com que foram ouvidos, se os que estiveram naquela sala passarem a mensagem nos seus locais de trabalho e nas suas redes de contactos , de certeza que muitos mais se interessarão pela causa e tentarão saber mais e mais.
    Claro que para muitos bibliotecários da rede pública, a tarefa não será fácil, pois há muitas barreiras e poderes a vencer. Há bons exemplos, como este Blog, que pode ser um bom indicador para os órgãos decisores.
    Relativamente às Bibliotecas Escolares, que são as que melhor conheço, embora haja muito trabalho a desenvolver-se nesta área, muitas Bibliotecas a construírem os seus Blogues, muitas turmas e professores a fazerem-nos com os seus alunos, há um grande caminho a percorrer.
    Muitas escolas principalmente do 1º ciclo, debatem-se com uma grande falta de meios técnicos,têm um parque informático obsoleto, computadores sem ligação à Net,equipamentos espalhados pela escola sem ligação em rede,etc, etc…
    As Autarquias, equiparam as escolas com um computador por sala de aula através da medida 9 do Prodep, mas há formas muito diversas dos mesmos serem rentabilizados. Também aqui há um grande trabalho a fazer para actualização dos equipamentos e dos recursos. Aproveito a oportunidade, para dar os parabéns ao colega Júlio, pelo excelente trabalho que tem desenvolvido e pelo entusiasmo com que o faz
    Ana Melo

  14. Julio Anjos

    Obrigado Ana, principalmente por me chamar “Colega” o que aprecio muito…

    Apesar de tudo o que diz, e que conheço bem pois tenho uma filha no Ensino Secundário, ainda assim tenho 29 blogues de bibliotecas escolares no directório do Bibliorandum.

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