Temos uma sociedade ligada à internet. Alguns dos nossos utilizadores nessa sociedade (e sem outros diferenciadores, são público das bibliotecas publicas) pertencem à geração nativa da internet (que apenas conhece um mundo com acesso permanente à internet). Outros dos nossos utilizadores são imigrantes digitais (conheceram o mundo sem internet) ou são info-excluídos (sem acesso à internet ou nem sequer estão no patamar da pirâmide de Maslow).
Para os nativos digitais a web é um mecanismo de acesso à informação (e ao ócio) completamente transparente, ou seja: nem dão por isso, de tal maneira o fazem sem esforço.
Defendo eu (e alguns outros pensadores da área) que o acesso das Bibliotecas a essas gerações (e a todas que se lhes seguirem) tem de passar pela internet.
(E ter uma presença na internet é muito mais que ter uma página na internet… muitos sítios de bibliotecas na internet não são presença, são “epitáfios” e “lápides”)
Portanto as bibliotecas vão ter de marcar presença na internet com serviços tão bons, bonitos, atraentes, viciantes, etc como a concorrência, ou seja: todos os outros serviços que concorrem pela atenção dos nosso utilizadores (que continuam a ter apenas 24 horas por dia para gastar).
Para uma presença dinâmica na web o uso de ferramentas web 2.0 é essencial. Para isso o tema “Gestão de Conteúdos e Web 2.0” é altamente relevante e pregnado de potencial.
A temática é muito boa… talvez demasiado boa para ser explorada apenas a nível de tertúlia…. conversa de café… tendo ficado por explorar muita coisa, pois o fenómeno é de grande fôlego, podendo ter sido explorado em três perspectivas:
1ª A selecção de conteúdos pelo técnico de informação, para benefício dos utilizadores do seu serviço, numa web 2.0 em que até a nossa avó pode ser produtora de conteúdos. É por estar TUDO na internet que somos indispensáveis como técnicos de informação.
2ª O papel, o perfil, as competências e perícias necessárias ao técnico de informação para ser um produtor de informação na web 2.0 (Sobre isto vejam a a apresentação de Fabiano Caruso no CTDI 2007)
3ª O papel, o perfil, as competências e perícias necessárias ao técnico de informação para ser um auxiliar e formador eficaz dos seus utilizadores tanto no acesso à, como na produção da, informação na web 2.0.
Nas bibliotecas universitárias o problema é muito ainda mais premente: a quase totalidade dos utilizadores a nível de licenciatura é um nativo digital! Muitos dos utilizadores a nível de mestrado e doutoramento são imigrantes digitais especialmente bem integrados. O único grupo de clientes tipicamente imigrante digital (quando não info-excluído) é o corpo docente.
Também para bibliotecas e serviços de documentação e informação de empresas a temática da web 2.0 é fundamental: as ferramentas de comunicação e de criação (desenvolvimento, cimentação, etc) de sentido de comunidade oferecidas pela web 2.0 são altamente relevantes para muitas empresas, principalmente as de topo. Mais ainda: também para estas empresas o acesso a técnicos e profissionais com à-vontade na criação de conteúdos, que possam moldar a imagem pública da empresa junto destes novos públicos é um factor preferencial. [Veja-se o mercado, apresentações anteriores, etc da conferência Social Media Forum]
Parece-me difícil de contradizer que dentro de muitos poucos anos a maior parte das relações entre as bibliotecas de sucesso e os seus utilizadores será por meio de ferramentas agora chamada de web 2.0 e os serviços da biblioteca serão prestados pela projecção destes no ambiente digital em que os utilizadores vivem (mais ou menos tempo).
A utilização destas ferramentas, o papel do serviços de informação e documentação bem como dos seus profissionais, neste universo, que se adivinha já muito próximo, parece continuar a passar ao lado de muitos cursos da área, seja de licenciatura, de mestrado ou de doutoramento. Não só ao nível da reflexão como ao nível da formação. Num mundo em que é cada vez mais difícil apresentar factores diferenciadores nos currículos o Prof. Herrera falou muito bem de que os concursos estão cheios de gente que sabe catalogar e indexar, mas não de gente que saiba concretizar sítios internet dinâmicos e integrados com base de dados.
Estamos portanto no ponto fulcral do que ficou por dizer, e que parecia vir no título da Tertulia: qual a necessidade de embeber tecnologias web 2.0 na prática da docência e qual a necessidade de fazer dessas ferramentas objecto de formação…
Acho que a necessidade de formação já se estende às ferramentas Web 2.0: As bibliotecas (e outros serviços de informação, memória e documentação) estão sedentas de se posicionarem dentro desta arena, e para isso precisam de pelo menos uma de duas coisas: ou auto formação ou licenciados com estas competências à saida da Universidade.
Que a ESEIG não dê esta vantagem competitiva aos seus alunos é uma coisa que não me espanta. Que nem a Universidade de Granada o faça é preocupante. Que duas universidade americanas (San José e Washington State) já tenham uma cadeira semestral dedicada a ferramentas sociais é encorajador, que apenas sejam duas é também preocupante.
Trabalho (com algumas referências complementares e uns acentos corrigidos) apresentado no contexto da cadeira de Análise e Modelação de Sistemas por ocasião da “conversa” (com café e tudo) que o Prof. Doutor Vitor Herrero Solana da Universidade de Granada e Grupo SCImago veio fazer à ESEIG a convite do PIGeCO
Nota: Este texto e feito sob a influência de algumas das conclusões apresentadas em http://www.pewinternet.org/pdfs/PIP_ICT_Typology.pdf. Apesar de não serem sobre a população portuguesa, e independentemente das proporções relativas, o facto permanece que os utilizadores tipificados existem realmente… são consequência do acesso à internet de banda larga, não do país em que a acedem (com ressalva para a China?)