Newsletter CI: Focando agora outro assunto, o Júlio frequentou o curso de Ciências e Tecnologias da Documentação e Informação da ESEIG. Conhecendo as bases por que se rege a Licenciatura em Ciência da Informação da Universidade do Porto, considera que há diferenças substanciais entre os dois cursos? Regem-se estes por paradigmas diferentes ou sente que há uma grande aproximação entre ambos? Júlio dos Anjos: Não frequentei a Licenciatura em Ciência da Informação da Universidade do Porto pelo que não me sinto qualificado para tecer considerações de comparação entre CTDI e LCI. No entanto acredito que há um deficit na visão estratégica, a longo prazo, para as profissões normalmente associadas tanto à LCI como à CTDI e a todas as licenciaturas e pós-graduações que criam profissionais para bibliotecas, arquivos, centros de documentação e actividades conexas. Pelo que me apercebo, ao investigar os currículos em prática na esmagadora maioria das licenciaturas, pós-graduações, e até nos programas de MLIS americanos, ainda persiste a tendência para produzir diplomados que teriam, há quinze anos, enfrentado com êxito as mais difíceis entrevistas para empregos de alto-nível; todavia, se estas competências já não são suficientes hoje em dia, muito menos o serão daqui a cinco ou dez anos! Sinto que é mais importante que o currículo das licenciaturas e pós-graduações, e a própria imagem que os profissionais da área têm da profissão, se adeqúe a novas realidades e necessidades. Acima de tudo, continua a ser necessário um maior entrosamento com a informática. As normas que proporcionam “job security” no mundo da informação para os próximos cinco anos serão provavelmente “BPMN” e “XSLT”, associadas à “ISAD” e ao “uniMARC”. O profissional de informação que queira estar no activo daqui a dez ou vinte anos tem de dominar minimamente estas quatro competências hoje, sob pena de não conseguir acompanhar o que vem aí nos próximos 10 anos. Há muito que uma licenciatura na área de BAD não é uma boa opção para quem a procurar por gostar de literatura. Muito pelo contrário, a necessidade de dominar vários dialectos de modelação de estruturas de dados, e de processos de negócio, em “UML” devia ser publicitada aos quatro ventos! Esta é uma atitude que quero ver na base dos currículos nas licenciaturas nacionais e europeias. Os licenciados destes cursos não têm nada a temer se, entendendo que é impossível às universidades anteverem quais serão as job-descriptions a que concorrer daqui a dez anos, assumirem que o sucesso vai sempre depender da sua capacidade individual de aprendizagem permanente e autónoma.