"Strategies to integrate new Library 2.0 concepts and related technologies into LIS education and practice " apresentação por José Angel Martínez Usero, Universidad Complutense de Madrid e Isabel Sousa, Biblioteca Municipal de Espinho.
Alguém ontem disse que em 1980 lhe disseram COM TODA A CONVICÇÃO: "As bibliotecas estão moribundas".
A pessoa que o disse afirmou para espanto da audiência presente: "E efectivamente já morreu"… depois de nos deixar respirar duas vezes completou: "A biblioteca de 1980 está morta"
Acho que a frase está muito bem apanhada e levo a idéia ainda mais longe: a biblioteca de 1980 está morta, a de 1990 também, até talvez a de 2000 já esteja moribunda.
Deus sabe que ao entrar na Universidade ninguém tem a mais pequena idéia de qual o emprego a que poderá aceder quando completar os três anos do ciclo de estudos de Bolonha. Uma coisa é hoje em dia 90% certa: o emprego que terá 10 anos depois de sair da universidade ainda não existe hoje.
Juntemos agora as duas coisas: A biblioteca para a qual o Euroreferencial foi criado já não existe: ou melhor: a biblioteca existe, mas as competências concretas que materializam as competências gerais já não são as mais apropriadas.
É o problema de encontrar referências, por exemplo no programa de CTDI a z39.50 e não encontrar referências a SRU/SRW e OAI-PMH. Encontro referências a HTML mas não a wikitags, a FrontPage mas não a blogger. Algumas competências, que na altura nem tinham materialização especificada, são agora traduzíveis em wikis, blogs, mashups, etc. Outras das competências eram "necessárias" na altura mas estão já embutidas no tecido social; por exemplo o euroreferencial não diz nada sobre saber ler e escrever, saber usar caneta e lápis; não faz também sentido em 2007 dizer que o profissional LIS deve saber usar email. Seria aliás mais estratégico, hoje, dizer que o bibliotecário deve saber comunicar por IM. Não porque é a "coisa do momento" per si, mas porque é a "coisa do momento" utilizada por uma gigantesca percentagem dos seus públicos.
A "biblioteca" existe porque o problema que resolve continua a existir, o objecto epistemológico do seu problema ("informação") continua a existir mas noutro suporte ("digital" vs "papel"), as respostas e as ferramentas que usa e tem à disposição é que são diferentes.
Para qualquer empresa o plano estratégico, que é o que o EuroReferencial é, tem um prazo alargado. Os planos operacionais, são anuais e variam conforme as necessidades específicas de oferta e procura de produtos. É nesta prespectiva que acho defensável que os curricula sejam adaptados todos os anos a novas necessidades e se possível devem ser aplicados correctivamente e retroactivamente à massa estudantil ainda sob a alçada pedagógica dos cursos.
Não posso continuar a deixar passar o facto de que, em termos de ferramentas e mesmo de competências genéricas, muitos cursos superiores de LIS (Licenciaturas, pós-graduações e mestrados) estarem ainda orientados para a Bilbioteca de 2000 (quando não para a de 1990 e 1980).
Estamos em 2007 e os que entram hoje atingirão o mercado de trabalho com uma licenciatura em 2010. É para a biblioteca de 2010, na medida em que ela seja antevisível hoje, que temos de preparar os licenciados.
Temos talvez de investigar se ainda temos assim tantas bibliotecas "1980-1999" que continue defensável manter a formação dirigida a pereencher as necessidades laborais delas. E se temos muitas dessas bibliotecas devemos talvez considerar se seria conveniente injectar um pouco de mentalidade "2010" para as actualizar.
Haverá aqui um problema de definição de "cliente" dos cursos LIS (talvez um mission statement se seguirmos o vocabulário de planemento estratégico). Será o computo nacional de bibliotecas, arquivos e serviços de documentação? Será o meta-conceito "biblioteca" como sistema de informação? Será a sociedade? Serão os valores que a Biblioteca e os bibliotecários trazem, representam e mantêm vivos na sociedade (e nesse caso o cliente é uma certa idéia de sociedade livre e democrática)?
Independentemente da natureza do cliente não é com "bibliotecas" 1980 que vamos conseguir servir o cliente 2010… o cliente que é servido pela biblioteca 1980 é o cliente 1980 e está a agora com 50 anos. As bibliotecas que não abandonem o paradigma 1980 estão condenadas a morrer com os seus clientes… é a entorpia natural do universo. Parece pois forçoso que se pense em formar bibliotecários para a biblioteca 2010.
Neste sentido há necessidade de um diálogo entre a prática profissional, a investigação e o ensino de LIS. É para isso que este encontro/conferência ocorre… Onde raio então estão os praticantes, os investigadores e os professores coordenadores deste país?!